quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Paul Biddle, 2009



A senhora Quanza

coroada a peixes

entra na chuva


Um pequeno estudo

sobre Física Quântica


Fernando josé Karl

A tranquila contemplação do objeto natural: a chuva: onde a senhora Quanza entra coroada a peixes. Deixo-me perder neste objeto: a chuva: mas ainda existindo enquanto puro sujeito.

A senhora Quanza, coroada a peixes, enraiza-se na chuva.

A experiência que o sujeito tem de um objeto dentro de si proporciona-lhe um senso de existência e de identidade. O fato de que existe apenas o mundo espiritual priva-nos da esperança e nos propicia a certeza. Existe apenas o mundo espiritual; o que chamamos de mundo físico é o mal do mundo espiritual.

É perfeitamente pensável que o resplendor da vida circule por toda parte, e sempre em toda sua plenitude, acessível mas velado, profundo, invisível, longínquo. Mas ele está ali, sem hostilidade, sem relutância nem surdez. Com a palavra certa acode ao chamado. Essa é a essência da magia, que não cria, mas convoca.

Quem sou?

A resposta se esgueira em torno da pergunta, fixando desesperadamente os olhos em seu rosto enigmático.

De onde vim?

A resposta se esgueira em torno da pergunta, fixando desesperadamente os olhos em seu rosto enigmático.

Para onde vou?

A resposta se esgueira em torno da pergunta, fixando desesperadamente os olhos em seu rosto enigmático.

O que nós, escritores, podemos aprender com os lagartos ou copiar dos pássaros? Na rapidez está a verdade. Quanto mais rápido o jorro, mais veloz a escrita, mais sinceros nós somos. Na hesitação entra o pensamento. Com a demora vem o esforço de encontrar um estilo, em vez de saltarmos para verdade. Mas se procuramos nos voltar para ver o pensamento, aprisioná-lo nas tarrafas da análise e nas armadilhas das definições unívocas, ele também se esvanecerá como fumaça. Há portanto uma singular significação da linguagem, tanto mais evidente quanto mais nos entregamos a ela, tanto menos equívoca quanto menos pensamos nela, rebelde a toda posse direta, mas dócil ao encantamento da linguagem, sempre aí quando confiamos nela ao evocá-la.

Provérbio árabe: “Não é porque o céu está nublado que as estrelas estão mortas”.

O mais insignificante descerra a porta maciça: eis o que tudo é um ponto (.) nada mais.

Um ponto (.) que recebe a alcunha de quantum (unidade de energia luminosa): esse ponto (.), ou quantum, é capaz de deixar a natureza tão flexível, que se torna possível a inexplicável transformação de não-matéria em matéria, de tempo em espaço, de massa em energia.

Devemos aprender o domínio da potentia que está fora do tempo e do espaço: e a potentia que está fora do tempo e do espaço nada mais que o pensamento.

A não-localidade quântica: a consciência é não-local: não acontece dentro do tempo e do espaço: não sou eu quem pensa, mas Algo pensa em mim: não sou eu quem ajo, mas Algo age em mim: esta não-ação preconizada pelas práticas orientais não é senão integrar-se à ação, a superior, a sublime. Um exemplo? Os mestres-arqueiros do Kyudô (O caminho do arco) são capazes, mesmo com uma venda nos olhos, de acertar várias vezes o centro do alvo: daí se chega à conclusão: Algo dispara a flecha, Algo acerta o alvo.

Quantum: unidade básica da matéria ou energia: 100 milhões de vezes menor que o átomo mais ínfimo: no nível quântico, a matéria e a energia estão interligadas: devemos aprender a mergulhar no domínio: Algo ou o Outro : e dali ditar a própria realidade: no nível quântico, matéria e energia tornam-se alguma coisa que não é matéria nem energia: os físicos, às vezes, referem-se a esse estado primordial como singularidade.

O quantum é invisível: a palavra invisível significa que, além de não ser visto pelos olhos, é também imperceptível para qualquer instrumento inventado pelo homem.

O ponto (.) em que a coisa-em-si entra mais imediatamente no fenômeno é aquele em que o fio de ouro da consciência ilumina a Vontade/a Pulsão, que jamais pode tornar-se objeto da consciência, a não ser através de uma ideia (Vorstellung) que a representa.

O fóton (unidade de energia luminosa) é um quantum de luz: cada quantum é feito de vibrações invisíveis: fantasmas de energia à espera de assumir a forma física.

Que algo tão extraordinário como um estado de consciência surja em consequência da irritação do tecido nervoso é tão inexplicável quanto o aparecimento do Gênio quando Aladim esfrega a lâmpada: a consciência existe, é incontestável, e atrás dela nada existe que possamos perceber: mas ela não existe senão acasalada à linguagem, e não é a primeira que aparece, é a segunda: a função da consciência é a de se perder, obscuramente, na linguagem: a consciência não pode se contemplar a si mesma sem passar pela linguagem.

A linguagem não tem nenhuma relação conexa com a realidade: não há pensamento sem expressão: a linguagem é um fenômeno emotivo: nós pensamos frases, não pensamos pensamentos: a palavra é a decisiva simplificação: há menos palavras que frases: o número de sons ou de elementos fonéticos contidos nas palavras é muito menos que as próprias palavras: a escrita registra os sons: não existe memória sem emoção.

A linguagem animal implica uma aderência do sinal com a coisa significada: para que a aderência cesse e o sinal adquira um valor independente do objeto, é necessária uma operação psicológica que está no ponto de partida da linguagem humana.

Na Física Quântica, as coisas permanecem como possibilidades, até que um ser consciente de fato as observe.

A.........................B, C, D, F, G etc

__________

Algo

ou

o

Outro

Toda área abaixo da linha não é uma região para ser visitada no espaço e no tempo. A mente e o corpo ficam acima da linha: A é um evento mental, um pensamento: todas as outras letras: B, C, D, F, G etc, correspondem a processos físicos que se seguem a A.

Os estados mentais são invisíveis e não têm peso.

O pensamento é imaterial.

Todas as mudanças físicas no organismo podem estar ligados a uma cadeia natural de causa e efeito, exceto o espaço abaixo da linha depois de A: ali, no espaço abaixo da linha, é onde respira o Algo ou o Outro: esse Algo ou o Outro é o ponto em que primeiro ocorre a transformação do pensamento em matéria: e precisa ocorrer, ou os outros eventos não ocorrerão: essa transformação não leva nenhum tempo nem acontece em algum lugar.

A imagem assemelha-se a uma fila de pessoas passando uma ânfora umas às outras, onde todas apanham a ânfora da anterior, menos a primeira, que a pega não sabendo de onde: ou talvez a pegue de lugar nenhum.

Na Fonte da inteligência há pouca diferença entre pensamentos e moléculas: as palavras e as imagens funcionam como as moléculas reais para disparar o contínuo processo da vida.

Aquele que se denomina o Algo ou o Outro em nós, é aquele que está para além de uma dimensão imaginária, sendo o portador de um tesouro de significantes, isso é, o Algo ou o Outro é uma instância que é feita de palavras: o significante não é o som pronunciado ao se enunciar a palavra, mas a sua imagem acústica. As palavras: sentimento, então, que, jamais, um, pelo etc: não são significantes porque não formam imagens acústicas. Já as palavras: céu, búfalo, xícara, aqueduto, diamante etc: são significantes porque formam imagens acústicas.

O sim diz respeito ao campo do Algo ou do Outro, pelo fato do sujeito, pela sua inconsistência, só poder aparecer Outrificado.

Sim, faço do Agora o foco principal de minha vida.

O observador silencioso de todo processo: só existe matéria se houver o observador consciente: ao toque de um pensamento um neuropeptídeo (molécula mensageira) aflora na existência: o fóton, que não é quase nada, porque feito de mínima matéria, pode lampejar dentro e fora da existência.

A grande capacidade do neuropeptídeo é a de obedecer aos comandos da mente com a velocidade da luz: 300 mil km/s. No mesmo instante em que você pensa Sou feliz, um neuropeptídeo (molécula mensageira) transforma sua emoção, que não tem nenhuma existência sólida no mundo material, numa partícula de matéria tão perfeitamente afinada a seu desejo que todas as células de seu corpo, literalmente, ficam sabendo dessa felicidade e a compartilham.

No Oriente, meditação significa a ausência de objetos na mente. Quando não há pensamentos se movendo dentro de você, há uma quietude. O buraco real clama por um significante que o fixe a um objeto e por uma imagem que lhe dê consistência, mas tudo o que o buraco real encontra é a marca de um objeto ausente objeto a o silêncio.

De que maneira um padrão neural se torna um vaso sagrado é uma questão que a neurobiologia ainda não elucidou. Se pedirmos para alguém fechar os olhos e imaginar um objeto: vaso sagrado, as mesmas áreas do cérebro se ativarão, como se estivessem vendo o objeto: vaso sagrado. A verdade é que o cérebro não sabe a diferença entre um vaso sagrado que ele vê com os olhos abertos nesta sala, por exemplo, e um vaso sagrado que ele vê com os olhos fechados, através da memória, pois os mesmos neurônios são ativados. Tanto faz se o vaso sagrado está fora ou dentro do cérebro, um padrão neural é que constrói o vaso sagrado com a forma de uma imagem. O objeto: vaso sagrado e a imagem do vaso sagrado, ambos são reais para o cérebro que, depois, repassa as informações sobre o que viu e sentiu sobre o vaso sagrado para todo o corpo.

Tudo o que nos cerca, e nós mesmos, é apenas restolho de um colosso invisível: somos o grande envergonhado que se faz pequenino: não há nada mais atual que a grande infância esquecida: as sombras só ganham vida quando carregadas pelo desejo: a presença insidiosa do desejo: pois o desejo é o cerne da magia: dir-se-ia que é uma lei do espírito só encontrar o que não se procurou: o acaso é fundamental: as partículas não seguem o bom senso: o essencial não ocorre no espaço e no tempo, mas nas tessituras ancestrais do pensamento.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Roger M. Parry, 1930

Atman: o ser imperecível: a centelha vital do divino, também é conhecido por outro nome: Algo.
No Kyudo (caminho do arco e flecha) os mestres japoneses acertam o centro do alvo, mesmo estando este centro do alvo no escuro: e os mestres ainda colocam uma venda nos olhos: quem é que, daí, acerta o centro do alvo senão o Atman ou o Algo?
A dica do Atman ou o Algo é simples: que de nós nada reste, a não ser a tensão, sem nenhuma intenção: Atman dispara a flecha: Atman acerta o centro do alvo: o Atman nunca erra, porque ele é o sim primordial: no Atman nunca há a impossibilidade: por isso, o que inconcebível para nós, para o Atman é simples, é natural.

Paul Biddle, 1993

Se uma folha cai num rio ou numa encruzilhada, ou até mesmo num lugar santificado por Shiva, que bem ou mal pode causar à árvore? A destruição do corpo é como a queda da folha, flor ou fruto. Não afeta em nada o Atman, que é nossa verdadeira natureza. Este sobrevive, como a árvore.

O Atman: o ser imperecível: a centelha vital do divino, é autoluminoso. O Atman não necessita de sol e nem de luz nenhuma. Sua luminosidade é o conhecimento e manifesta-se igualmente através de todos os objetos. Sua luz não é o oposto da escuridão.

O Supremo não é homem ou mulher, mas pura consciência além de toda forma.

Há uma luz que brilha mais do que bilhões de sóis juntos. É a essência da alma. Essa é a luz que mora no coração.

Sat-Chit-Ananda
Sat-Chit-Ananda
Sat-Chit-Ananda
Sat-Chit-Ananda
Sat-Chit-Ananda

Sat: o Ser.
Chit: consciência.
Ananda: bem-aventurança.

Texto escrito por Shânkara:
sábio hindu do século 9 d.C. (788-820)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Todo dia é dia de Lakshmi



Pode ser vista sentada sobre uma flor de lótus, ou segurando flores de lótus nas mãos, e um cântaro que jorra moedas de ouro.